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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

HARMONIA - as cores da arte

O pintor francês Georges Seurat foi o fundador do movimento pós-impressionista, ao lado de outros franceses como Paul Signac (1863-1935), Henri Edmond Cross (1856-1910), Charles Angrand (1856-1926) e Maximilien Luce (1858-1941), do belga Theo Van Rysselberghe (1862-1926), além de Camille Pissarro. Todos eles desenvolveram esse sistema de justaposição de cor pura para os seus quadros baseada em pequenas pinceladas, cujas cores não deveriam ser misturadas na paleta, pois deveriam se fundir quando o observador atingisse uma certa distância da tela, causando a sensação de novas cores.

Seurat recomendava o uso de cores puras, próximas às do prisma, estudadas pelos físicos. Parte da crítica de arte o acusou de subordinar a arte à ciência. No entanto, por mais que ele tenha sido influenciado pela ciência, Seurat chegou a uma doutrina própria sobre o uso das cores com uma técnica autêntica. Ele cultivou o sonho de usar apenas as cores primárias e as cores complementares na sua paleta.

Influenciado por Seurat, o pintor Van Gogh entendia que a cor era símbolo de uma paixão. Se ele via na cor a sua expressão, verdadeiro veículo simbólico da espiritualidade, suas pinturas revelavam um retrato exato do seu turbulento universo espiritual. Além das suas perturbações habituais, Van Gogh acabou se encantando pelo efeito alucinógeno do absinto, o que agravou sua sensação dramática sobre a existência. Ele intensificou a marca do pincel como recurso expressivo. Em seus últimos anos, Van Gogh colocava a tinta diretamente sobre a tela, o que ocasionava um espesso empaste de tinta, que determinava um ritmo alucinante nas suas composições. As telas de Van Gogh têm uma energia forte e peculiar, conduzida pelas pinceladas vibrantes de cores que eletrizam a superfície. Em suas cartas ao irmão Théo, ele escreveu: "Tenho a intenção de aprender seriamente a teoria (cores); não considero isso de forma alguma inútil (...) Existem regras, princípios ou verdades fundamentais, tanto para o desenho quanto para a cor, aos quais é preciso recorrer quando se encontra algo de verdadeiro."

O pintor francês Paul Gauguin abriu caminho ao primitivismo e ao uso corajoso de cores puras. Ele defendia que a pintura deveria ser um ato imaginativo e, longe de poder ser enquadrado em algum movimento, sua obra foi tão singular quanto a de Van Gogh ou de Cézanne. O estilo de Gauguin foi caracterizado pela utilização simplificada das formas e por grandes áreas de cores chapadas, delimitadas por uma linha escura. Quando o pintor passou uma temporada no Taiti, quis se libertar dos condicionamentos europeus em que vivia sob o verniz da sofisticação e dos bons modos, e passou a admirar a sabedoria dos povos primitivos do Oceano Pacífico, pela maneira simples com que viviam. Suas telas ficaram carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltavam, também, cenas de um erotismo espontâneo e inocente. A cor adquiriu mais preponderância, representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas. A busca de Gauguin foi conectar a riqueza das relações simbólicas com uma pintura simples, econômica nas formas e cores. Posteriormente, ele morou no sul da França, onde conviveu com Van Gogh. Gauguin voltou ao Taiti outras vezes, onde fez suas pinturas mais representativas. O que viu lá não foi o que pintou, o que ele pintou foi um idílio que se sentiu impelido a inventar, um mundo híbrido (primitivo e simbólico) que, com o seu vigor, nos fez acreditar nele. Sua obra influenciou a vanguarda francesa e muitos artistas modernos.

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Fernando Dassan


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